Recomeçar ou esquecer?

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Meu nome, Alice. Quem sou eu? Sou uma mulher que já foi muito menina, assim como todas as outras. Pelo menos é o que eu espero. Minha idade? Melhor deixar sem apresentação. Mas resolvi me apresentar um pouco, pois quero contar uma parte da minha história, na verdade só a mais marcante delas para mim.
Como toda boa menina romântica se apaixonar era coisa clichê, pois eu não fui diferente, e como me apaixonava. Porém, uma dessas paixões foi sem cabimento. Me lembro de ter me apaixonado por um amigo, que era um melhor amigo da época, mas depois de 6 meses no máximo vi que isso era apenas atração física e desisti de confundir amizade com amor e colocar na cabeça de que se acontecesse alguma coisa seria apenas aquela “amizade colorida”.
Bom, isso foi se passando tempo e eu decidi nunca mais me apaixonar.  - Se cumpri? Obviamente não. Passei a colocar minhas paixões em outras coisas, futebol, leitura, romances, moda, desenho, fotos, tudo que me preenchesse a mente. Até que por uma dessas paixões comecei a notar um garoto.
- Qual era a paixão? O futebol.
Esse garoto estava em todos os jogos de futebol, nos corredores eles rasgavam parte do caderno para fazer uma imensa bola de papel para fazer alguém de bobinho ou treinar (se exibir) na embaixadinha. – Quando comecei o notar? Quando uma dessas bolinhas atingiu a minha cabeça e ele com uma cara de terrível ria e ao mesmo tempo pedia desculpas.
Agora o que a outra paixão do amigo tem a ver com essa? Você deve estar se perguntando. Tudo e nada, mas por uma mera coincidência ou mera semelhança os sorrisos eram iguais, até a covinha do canto direito do rosto.
Nessa mesma hora em que ele sorria e me pedia desculpas, pedi para minha amiga pegar a bolinha e me acompanhar até o pátio de baixo. Lá eu disse a ela que tive uma sensação estranha. Minha barriga gelou, quando me virei para reclamar da bolinha era como se algo tivesse congelado o tempo, como se minha visão tivesse desfocado as demais e eu ouvisse apenas a risada dele, que era baixinha e aguda no final. E meu coração pulsou como se fosse parar. Lentamente, lentamente.
Minha amiga não disse nada além de, -“ Ah não”. Como se eu tivesse anunciado uma doença. Chegando em casa não parava de pensar naquele momento, mas coloquei na cabeça, -“ Você está apenas fazendo associação ao seu amigo Alice, pare de pensar besteiras”.
Os anos foram se passando e nada mudava, parecia que tudo o que eu sentia aumentava, cheguei até me afastar do meu amigo por achar que eu estava confundindo as situações. Nesta de negar o que sentia, me envolvi com outras pessoas e claro ele também. Até que um dia dei a cara para bater e peguei seu celular escondido, - (Não façam isso em casa), mas não para fazer coisas más, mas para ligar para o meu celular e ter o número dele na agenda.
- Não sei porque fiz aquilo, pois sabe quanto tempo demorei para mandar mensagem? Uma hora.  Acharam que eu ia dizer meses. Mas não, pois como que uma garota que já estava apaixonada a anos iria conseguir uma chance dessas e demorar ainda mais anos para mandar algo.
Comecei a conversar com ele anonimamente e por mais estranho que pareça conversar com alguém que você nem saiba quem é, eu perdurei essa situação por um bom tempo, e ele também. Mas chegou uma hora que ele ameaçou colocar meu número para spam e nunca mais falar comigo.
Foi então que entrei no dilema, - “Deixo ele me bloquear logo e mantenho ele apenas falando comigo pessoalmente como uma pessoa qualquer, ou corro o risco de dizer quem eu era e talvez perder esse contato tanto pessoalmente como por mensagem? ”. Respirei fundo e mandei, “sou Alice”. Passei raiva, pois a resposta da mensagem veio a seguinte.
- “Eu sabia que era você, só queria que falasse logo”.
Quando passou o medo e a raiva, veio o alivio. Por saber que ele estava falando comigo por mensagem sabendo que era eu e não cortou contato. Tudo deu certo, continuamos nos falando por mensagem, porque pessoalmente tínhamos uma certa vergonha. Nos olhávamos algumas vezes, riamos um para o outro, mas não passou disso.
Até que um dia ele passou pela porta onde eu estava encostada e passou colando ao meu corpo. Eu senti a respiração dele, o vi olhando para minha boca, e eu pequena como sou fiquei encurralada na porta. Mas ele apenas passou, não fez mais nada.
Saí da sala esse dia passando muito mal, fiquei com febre durante a noite e mandei mensagem para ele perguntando o que ele sentia por mim. - Sabe qual foi a resposta? “Às vezes acho que te amo, mas não sei bem o que sinto, tenho vontade de dizer que te amo, mas posso estar enganado. ”. Com apenas um dos braços que segurava o celular e a cabeça para fora do cobertor e olhei aquilo escrito e não chorei, fui forte e pedi, então não me ilude mais.
Fiquei sem chão por uns dias, mas nada que me impedisse de viver, de caminhar e de comer como muitas meninas acabam fazendo por homem. Pois eu sempre pensei que ninguém no mundo merece você parar de viver, mesmo amando e sofrendo o segredo é se amar mais. Mas se você está achando que acabou por aí, que foi tudo fácil e lindo minha vontade, está completamente enganado. Não o esqueci, e nem tinha como pois o via todos os dias.
As férias de dezembro chegaram e nelas veio a oportunidade de viajar. Uma cidade maravilhosa e quieta, onde encontrei paz por 10 dias. Só que mesmo distante daquele garoto até mesmo por mensagem eu não desligava meu pensamento dele. Quando voltei para casa achei que tudo o que eu sentia iria passar, pois mudaria tudo na escola, e para meu destino nada mudou. Nem o sentimento.
Daquela viagem eu trouxe um chaveiro, onde uma chave abria um cadeado com coração. Minha ideia? Guardar para alguém especial. Eu e o garoto voltamos a nos falar novamente, e as conversas pareciam não ter diminuído a essência, nelas havia risos, piadas, carinho, brutalidade em algumas vezes, cobranças e defesas de fatos que aconteciam.
Quando se aproximou das férias do meio de ano escolar eu pedi que ele me esperasse para irmos juntos. E sempre dava errado de ele me esperar. Porém tudo tem sua boa hora. E em um dia tarde da noite e chuvoso ele caminhou na frente com seus amigos e minha amiga sem saber de nada pediu para que eu esperasse o pai dela para trazer o guarda-chuva. Agoniada para ir logo embora, mas sem deixa-la na mão esperei. Mas o perdi de vista.
Pensei no caminho, - “isso não é mesmo para acontecer”. Foi quando olhei mais à frente da ladeira e vi alguém esperando perto de uma árvore de coquinho ocos que tinha na calçada. Eu não acreditei, mas era ele que estava lá, me esperando na chuva. Minhas pernas tremeram, minhas mãos deixavam o guarda-chuva escorregar de tanto que suava.
Pedi para que ele segurasse o guarda-chuva para que eu pudesse pegar uma coisa na bolsa, parado na minha frente sem entender nada, abri uma caixinha que estava o meu chaveiro. Como sabia que não teria mais nenhuma oportunidade como aquela de estarmos na chuva e sozinhos na rua, resolvi dar a ele o chaveirinho.
Peguei sua mão e disse a ele que aquele chaveiro era para lembra-lo que teria a chave do meu coração sempre. Sorrindo de leve sem me dizer nenhuma palavra, ele foi se aproximando de mim, com medo eu peguei o guarda-chuva, mas com a outra mão ele pegou na minha cintura e me beijou.  Lindamente e lentamente, sentia seu coração junto ao meu batendo rápido, mas eu estava com as mãos trêmulas e tão entregue que não consegui segurar o guarda-chuva no ar. Meu beijo de chuva com ele.
Precisávamos voltar para casa, para nos despedir tive uma frase que no momento nem prestei atenção. Mas que foi “Pode não acontecer mais, não quer ficar mais? ”. Minha pressa de não levar bronca foi maior e fui embora.
Um mês se passou e depois daquele dia não tivemos muito contato. Surgiu muitas perguntas na mente do porque não nos falávamos tanto mais. O que eu fiz de errado? Será que não gostou? Quando voltamos a nos ver pessoalmente tivesse essa resposta. Da melhor maneira que poderia ter sido. Ao ir embora, naquela avenida nos cruzamos no final dela. Eu, ele e sua nova namorada.
Garotas são fortes vendo essas cenas? Não. E o que eu era mesmo? Uma garota. O que fiz? Paralisei e chorei. Não procurei saber o porquê, nem para que por um ano. Até que já mais crescida precisei trabalhar. Já fora da escola comecei a trabalhar em uma padaria para completar meus planos de futuro. Minha vida foi para frente, mas me relacionar com alguém de coração nunca conseguia.
Um certo dia recebi a visita daquele garoto, lindo como sempre, parecia que nada nele tinha mudado. Foi então que em 2 minutos de conversa ele me dá a notícia de estava noivo. Sorri e dei parabéns. Quando ele saiu, me tranquei no banheiro e chorei desesperadamente, voltei para frente da padaria pois só havia eu. Em menos de minutos ele voltou para me dizer alguma coisa, mas ao me ver com os olhos vermelhos creio que perdeu a coragem. Apenas me perguntou se estava a chorar. Tentando ser firme disse que não, mas nitidamente não teve como não notar.
No começo da apresentação você disse que seria marcante e não triste, (deve estar pensando isso agora). Mas não terminei a história, ela fica talvez um pouco pior. Por muito tempo ficava me perguntando o que ele queria me dizer quando voltou, pois, ele não voltou para comprar pão, não voltou para conferir troco, para que então? Mas segui.
Como menina tudo o que eu queria era realizar minhas conquistas, e no mundo moderno que está, minha maior vontade era dirigir. Com um ano de empresa comecei a ocupar minha mente com o curso de direção para realizar meus sonhos e ver se a mente trabalhava mais do que o coração, que por sinal estava fraco e acabado.
Fui finalizar meu curso com a prova final. Nesse bom dia, notei que ao lado do local onde fazia carta havia apenas coisas policiais e um cartório. Olhei repentinamente para dentro cartório como nunca olhei, e para apunhalar o coração aquele garoto, estava se casando naquele dia, àquela hora.
Voltei para casa sem forçar uma lagrima no rosto, elas desciam sem ao menos pedir licença. Não me importei com quem estava me olhando. Desci do ônibus para o trabalho quase que empurrada, minha chefe não sabia do que se tratava, mas pediu para que eu fosse embora aquele dia, pois segundo ela eu aparentava não estar bem.
Me preservei por anos para ver se me recuperava da dor, dos choros e das noites mal dormidas. O pior de tudo era trombar com ele nas ruas em companhia de sua esposa e ter que se fazer de forte, ou não sendo, pois não era de ferro. Disse era, pois hoje costumam me dizer que meu coração é coberto por uma proteção de ferro ou pedra, que é estupidamente difícil achar brecha.
Foi até que então um rapaz interessante, do sorriso lindo parecido com o daquele garoto me chamou atenção. Com muitas conversas ele se tornou meu melhor amigo, porém seu interesse não era esse e deixou bem claro me beijando um dia. Eu cheguei a corresponde-lo, até que um dia ele me levou até sua casa para conhecer a família como amiga mesmo. Porém seus pais não se encontravam lá.
Então saímos de lá da casa e fomos subindo aquela ladeira do passado. Quando de repente, descendo a ladeira estavam o garoto e sua esposa. Disse para mim mesma, -“vou fingir que não o conheço e passar rápido”. Só que quando notei, os passos do meu amigo colorido diminuíram a frequência, até que parou na frente do garoto e disse:
“_ Alice, esse é meio irmão! ”.
Olhei nos olhos dele, olhei paro o meu amigo e lentamente, bem lentamente fui dando passos para trás. E quando fui perceber já estava correndo para longe deles. Correndo e correndo até que abriu um buraco enorme com duas portas e uma estava escrito, “recomeçar” e a outra “esquecer”, podia abrir apenas uma, qual delas eu escolhi.

“_ Ai doeu.... Gente presta atenção em quem vocês jogam essa bolinh.........a”. Disse Alice se virando para trás para ver quem a atingiu com a bolinha de futebol feita de papel.

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